Algumas pessoas nos escrevem perguntando sobre os ataques terroristas que acontecem em Londres e se deveriam cancelar a viagem por causa deles. Nossa resposta é sempre a mesma: NÃO, não achamos que ninguém deva cancelar uma viagem devido a ataques terroristas.
O Rafael Maciel, guia de vários passeios pela cidade, passa várias horas por dia andando por pontos turísticos de Londres juntamente com turistas. Ele escreveu esta pertinente reflexão sobre o significado destes ataques terroristas e o que deixam de marcas cidade. Se você está na dúvida se deve ou não cancelar a viagem, vale a pena a leitura!
We can take it!
“2017 está sendo um ano complicado pra Londres.” Esta frase não é minha, mas sim de qualquer veículo de mídia que tenha propagandas e anúncios veiculando. Depois disso segue pra uma matéria cheia de frases clichê, fotos de pessoas com expressão de desespero e se possível correndo. Alguns vídeos compartilhados nas redes sociais e um ou outro tweeter, e pronto: foi feito o escândalo. A reação é a mesma e não surpreende mais.
Claro que 2017 está sendo um ano com alguns ataques terroristas pela ilha. Londres já recebeu alguns e Manchester um outro. E apesar de o nome em si já aumentar o batimento cardíaco, não precisa a gente se preocupar com ataques terroristas. O motivo de um ataque não é matar pessoas, se fosse eu tenho certeza que teriam outras formas. O motivo é justamente o que o nome deixa claro: causar terror. Assustar. Dar medo. Prova disso é o ataque desta sexta, dia 15/09 , na estação de metrô de Parsons Green. Algumas pessoas foram hospitalizadas, mas ninguém em estado grave.
O resultado alcançado por quem quer que tenha planejado: causar terror, preocupação e medo. Mesmo assim, em uma parcela bem pequena de pessoas. E em pouquíssimos londrinos, com certeza. Já virou hábito esperar umas seis horas antes de ver as notícias pra ter mais clareza. Minha mãe se assusta mais com as notícias do que eu – veja bem, o que assusta não é o fato, mas a repercussão do fato.
O espírito do londrino é muito maior do que um balde que explode ou uma van desgovernada. O espírito do londrino é aquele que resistiu a 71 noites de bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial (que neste caso sim, a ideia era matar e não causar medo). É aquele que teve que evacuar mais de 3 milhões de pessoas da cidade. É aquele que mesmo depois disso tudo conseguiu reconstruir a cidade, e lembrar com carinho das vidas perdidas em prol do país. O título deste texto reflete um pouco isso. “We can take it” (algo como “a gente aguenta”). Este era o lema dos londrinos durante a Segunda Guerra.
If you see anything suspicious just ACT, contact police. You can make the difference. In an emergency dial 999 #ActionCountersTerrorism pic.twitter.com/42SAag4YW2
— Metropolitan Police (@metpoliceuk) September 15, 2017
O medo não é pertinente nem sequer no mesmo dia de qualquer atentado. As pessoas seguem as vidas um pouco mais chateadas (o que a gente sente ao ver a notícia na TV) mas o trabalho ainda precisa ser feito, a casa ainda precisa de leite e pão e a vida não precisa e não vai parar. A sensação de segurança é muito maior do que qualquer medo de um ataque. Todo mundo sabe da eficiência da polícia, dos serviços de emergência e das investigações que ou evitam qualquer incidente, ou punem mais tarde.
Aí a gente chega numa grande questão: a investigação e a punição. Se roubar um relógio na rua, ou se explodir um vagão de trem, a pessoa sabe que vai haver investigação e muito provável que uma punição. Não é as pessoas que se arriscam saindo de casa. É o criminoso que se arrisca cometendo o crime. As casas não tem garagem e os carros ficam na rua por isso. As pessoas usam o celular na rua por isso. E todo mundo pega o metrô todos os dias sem medo por isso – o único medo é de esquecer de ficar do lado direito da escada rolante e ser atropelado por algum apressado.
No Brasil 92% dos homicídios não são solucionados. O número de homicídios em 2015 foi de 55 mil – o equivalente ao número de 150 países do mundo SOMADOS. É um terrorismo diário que já virou cotidiano e quase nem assusta mais. Ao falar isso já teve gente que me disse que a violência urbana é diferente de terrorismo. Eu concordo e digo mais: prefiro um alerta relacionado a terrorismo, do que o alerta constante da violência urbana. Os terroristas não dominaram Londres e nunca irão. É mais fácil eles comprarem todo o chá do país e deixarem o londrino sem nada, do que fazer o que estão fazendo.
Não há como julgar o cotidiano de uma cidade baseado em um acontecimento. Não deixe que qualquer acontecimento estrague a tua viagem antes sequer de sair do papel.
Acredite: A única preocupação de andar pelas ruas à noite é de o teu pub favorito estar fechado.
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Katya
Oi! Primeiro quero dizer que amo o site! Vocês me ajudaram muito na programação da minha viagem. Muito Obrigada!!!!
Estive em Londres em agosto, e posso dizer que realmente o espírito londrino é maior que isso. Você terá mais controle de entrada nos locais turísticos, estádios, grandes aglomerações…. em compensação você não vê os londrinos reclamarem em nenhum momento por isso, pelo contrário. E apesar dos pesares…..minha vontade é voltar à Londres em breve.
Rafael Fernandes
Estou em Londres no momento e estava nesse último ataque no metrô. Não senti nada de diferente na cidade. Inclusive, estava na rua desde de manhã cedo e só fui ficar sabendo do ataque ao chegar no hotel, por volta das 21h.
A cidade é muito segura e tranquila.
Vanessa
Adorei o post!!!! Sou apaixonada por Londres e voltarei quantas vezes a imigração permitir, por que daqui pra frente eles serão mais rigorosos do que de costume.
Juliana
Obrigada pelo post. Estou com intercâmbio pago pra Londres e depois desse quinto ataque estava pronta pra desistir, mas de fato tenho medo todos os dias aqui no Brasil até mesmo de ir até a padaria na esquina. Vamos para Londres sim 🙏🏻
Karla
Falando somente por mim, morando no Brasil, tenho muito mais medo de sair na calçada da minha casa, do que de um eventual ataque terrorista em Londres ou outro país da Europa. Acho que o meu único medo é o controle da imigração da Inglaterra ficar rigoroso demais e não me dar o visto de entrada 🙂