De motorhome em Londres

Não, esta aventura não fomos nós que encaramos, foi nosso leitor, Daniel Lisboa Neves. E ele nos conta como foi, em um relato delicioso. Com a palavra, o Daniel:

Quem disse que é complicado dirigir em Londres? E mais: quem disse que mais complicado ainda é fazê-lo dirigindo um Motor Home de 8 metros de comprimento? Pois nós aceitamos o desafio e em outubro de 2012 percorremos vários locais da metrópole londrina a bordo de um Motor Home alugado.

Tudo começou quando do planejamento de nossa viagem pela Europa, ainda em finais de 2011, com escolha de roteiros e locais por onde passar, momento em que fiz a minha principal exigência às minhas companheiras de viagem, a esposa e minha mãe: “Não podemos deixar de passar por Londres”.

O motorhome em Londres

 Sou de uma geração que está fortemente influenciada cultural e musicalmente pela cena londrina dos anos 60, 70 e início dos 80, onde a efervescência do rock britânico nos brindava com o surgimento de bandas que vão desde os icônicos The Beatles e Rolling Stones até coisas mais atuais como Oasis, Coldplay e Cherry White, passando por lendas como David Bowie, Led Zeppelin, Pink Floyd, The Clash e The Smiths.

Cresci em meio a discos, vídeos, adesivos e camisetas de bandas britânicas, assistindo filmes de Kubrick e Hitchcock (além da saga completa do 007 hehehehe), lendo Orwell e Conan Doyle, vivendo e aprendendo com os britânicos e jamais me perdoaria se não pisasse em “solo sagrado” pelo menos uma vez na vida hehehehe.

Posto isso e decidido, já durante nossa viagem quando voltávamos de Brugge na Bélgica, tratei previamente de adquirir pela Internet as passagens do Euro Channel para o dia seguinte, partindo de Calais na França com destino a Folkestone na Inglaterra.

Pernoitamos de véspera no estacionamento do Euro Tunnel  e no primeiro trem do dia, ainda com céu escuro, partimos para poder chegar o mais cedo possível em Londres, evitando assim tráfego intenso e obviamente termos um melhor aproveitamento do dia.

Chegamos em Londres ao clarear do dia 21 de outubro, um domingo, vindos pela autopista M20 e, após passarmos na casa de um velho amigo que vive em Waterloo, fomos em direção ao Hyde Park passando por vários pontos de interesse como a Battersea Power Station, a ponte Vauxhall e o Albert Memorial, defronte ao Royal Albert Hall.

Contornamos o Hyde Park e fizemos uma pequena parada em Little Venice para apreciar as barcaças no canal. Após, atravessamos o Regent’s Park e, logo a seguir, fomos em direção ao Super Mercado Morrison em Camden Town onde largamos o Motor Home no estacionamento para podermos passear a pé pelas redondezas.

Conhecemos as maravilhas da feira de Camdem Lock onde almoçamos comida das mais diversas nacionalidades e logo a seguir partimos a pé rumo a St. John’s Wood pela beira do Regent’s Canal. Nosso destino era a famosa Abbey Road com sua emblemática faixa de pedestres defronte ao estúdio homônimo onde os Beatles e tantos outros músicos gravaram, e ainda gravam, suas músicas.

 

Fotos tiradas, desejos cumpridos, voltamos caminhando ao Motor Home e partimos por um tour guiado pelo nosso amigo Felipe pelos principais locais centrais de Londres, indo e vindo, passando por avenidas e ruas de Notting Hill, St. Pancras, Soho, o East End londrino, Covent Garden e tantos outros até chegarmos a Westminster e recebermos aquele impacto visual: o prédio do Parlamento Britânico e sua inconfundível torre.

Confesso que fiquei emocionado ao ver aquele relógio enorme que até então só em fotos e filmes eu havia visto. Justamente naquele instante o sino “Big Ben” começa a badalar as cinco horas da tarde e eu penso: “Puxa vida… ele existe mesmo!” hehehehehe

Atravessamos a ponte de Westmister e fomos direto ao estacionamento localizado entre o Jubilee Garden e o Southbank Centre, onde eu já havia previamente agendado para pernoitar. Pagamos o ticket na máquina de emissão e fomos praticar o principal esporte dos londrinos: beber cerveja em um Pub mais próximo… heheheheh. Entramos em um Pub sob o viaduto dos trens que cruzam o Thames chamado “The Hole In The Wall” (não podia ter um nome mais apropriado hehehehe) e ficamos bebendo e conversando até a hora de fechamento, pontualmente às 23h, momento em que nosso amigo Felipe e sua esposa Dyana retornaram para casa e nós em direção ao nosso Motor Home.

Era uma noite fria e com uma garoa fina. Logo pensei que isso é mais do que apropriado para Londres e mesmo sob protestos de minha esposa que queria entrar logo no Motor Home e se deitar sob os cobertores, resolvi sozinho caminhar até sobre a ponte de Westmisnter para tirar algumas fotos da Torre do Parlamento com aquele clima de contos de Sir Arthur Conan Doyle. A noite fria, a garoa e a névoa e as badaladas de meia-noite do Big Ben e mais a cerveja na cabeça… bom: Nem preciso dizer que me senti como em um filme e só faltou o Sherlock Holmes em pessoa surgir diante de mim… hehehehehehehe Voltei ao Motor Home com muito frio e um tanto quanto molhado e não demorei muito para dormir, mesmo sob forte emoção de estar realizando um grande sonho de minha vida.

 

No outro dia, acordamos bem cedo e mesmo com uma leve dor de garganta por conta de minha imprudência justificada da noite anterior, tomamos um rápido café e saímos a passear pela capital de meus sonhos.

Andamos de ônibus, entramos e saímos de lojas, tiramos fotos de monumentos e estátuas e perto das 11h estávamos defronte ao Palácio de Buckingham para assistir a troca da guarda. Foi maravilhoso, valendo cada minuto de espera em meio á multidão de turistas como nós. Havia gente do mundo todo e os sotaques e idiomas diferentes eram ouvidos a todo momento.

Saímos dali contentes e emocionados e fomos almoçar nas cercanias da Abadia de Westminster. Uma rápida visita ao famoso templo e voltamos para a região de Piccadilly Circus e Trafalgar Square. Tiramos inúmeras fotos nestes locais e a seguir resolvemos entrar em uma galeria muito interessante, a National Portrait Gallery onde vimos pinturas de vários períodos históricos e de inúmeras personalidades britânicas.

Ao final da tarde, já um pouco cansados de tanto caminhar, rumamos para o Motor Home que estava lá, paradinho debaixo da London Eye, para encontrarmos novamente nosso amigo Felipe que nos levaria a um Pub próximo ao campus da Universidade de Westminster onde a Cherry White, banda em que ele toca, se apresentaria naquela noite.

Já tarde da noite, após o show e longas despedidas, pegamos o Motor Home e começamos a nos dirigir para a saída da cidade, rumo a Folkestone para tomarmos o último trem do dia e voltarmos para o continente.

Tristes por termos que deixar nosso amigo e esta cidade impressionante e maravilhosa que ele escolheu para viver, voltamos para a França com a sensação que havíamos deixado nosso coração para trás.
Foram dois dias intensos e de muitas coisas para ver. Precisaria de no mínimo um mês inteiro para saciar minha fome de Londres, motivo pelo qual já tenho em meus planos de viagem um retorno o mais breve possível, quando então poderei dedicar-me integralmente a cidade que tanto admiro.

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