Deixa nevar
Londres, 02/03/2018
Silenciosa, ela chega sem avisar. Bem de mansinho. Os visitantes olham pro céu pra ter certeza que é verdade, alguns até apontam, incrédulos. Tudo fica mais bonito, desde prédios enfeitados por ela, até rostos enfeitados por sorrisos. Um ou outro já pegam a câmera pra fazer o registro e pontos turísticos que antes eram clichê agora vestem uma roupa nova.
A neve que caiu em Londres nos últimos dias surpreendeu pelo fato de que não neva tanto quando a gente imagina em Londres (apenas alguns poucos dias por ano); e também por ser início de março – faltando três semanas pra primavera. Um dos dias com a nevasca mais forte foi justamente na sexta-feira, dia 2 de março, quando a tempestade batizada de Emma chegou com vontade na ilha da Grã-Bretanha. Os flocos deram as caras ainda quatro dias antes e deixaram a cidade parecendo um tapete branco.
Se nem Jesus Cristo conseguiu contentar todo mundo, como a neve conseguiria? Tem gente que não gosta porque a rua vira uma mistura de gelo, água e lama e além de ter um aspecto não muito bonito fica bem escorregadio. Nem a chuva não arranca tantas reclamações destas pessoas quanto a neve. Já outro grupinho prefere reclamar de algo que faz mais sentido: atrasos e cancelamentos no transporte público.
Afinal, apesar de o nome ser Underground, mais da metade do metrô de Londres não fica no subterrâneo, ou seja, os trilhos ficam cheios de neve e isso impede que os trens andem normalmente. Muita gente acaba optando por não passar por isso dirigindo até o trabalho, enchendo as ruas de Londres, que também ficam escorregadias e perigosas, obrigando o motorista a reduzir a velocidade.
Mas eu prefiro fazer parte da galera que vê o lado positivo das coisas, me planejar antes pra quando preciso fazer alguma coisa na rua e apreciar a beleza dos flocos caindo do céu. Pensei nisso mesmo quando peguei a bicicleta pra ir até o Post Office e começou a nevar bem na hora, e tão forte que quando desci parecia um croissant coberto de açúcar de confeiteiro. Mas nada que uma calça térmica da Sports Direct, uma luva de couro da H&M e cinco minutos em um ambiente quente não resolvam.
O frio não espanta os turistas das ruas, claro. Mesmo com temperatura flutuando entre -4ºC e 1ºC a vida seguiu nas ruas da cidade (especialmente em ruas naturalmente charmosas como as de Notting Hill) mas especialmente dentro de museus e cafés, claro. Aqueles que assim como eu optaram por caminhar pela cidade pra admirar a paisagem viram uma Londres que parecia sair de um filme, onde os telhados das casas combinavam com os galhos das árvores, e as calçadas intimidavam o visitante que ousasse estragar aquilo, que parecia uma obra de arte, mas na realidade é apenas a natureza sendo ela mesmo.
E quanto juntamos a beleza da natureza com a beleza de Londres o resultado pode ser um só: perfeição.
E preciso confessar: me dei bem com ela. A gente já se conhecia, mas cada vez que ela aparece eu encho os olhos, como se fosse a primeira vez que a visse. Vivi bem cada momento junto dela, e agora o que ficou é apenas aquela sensação de que ela nem se foi direito e eu já sinto saudade, sabe?
Texto e fotos: Rafa Maciel, guia dos passeios incríveis em português. Clique aqui para conhecer o trabalho do Rafa.
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