Este post foi escrito pela Patrícia Camargo, uma doutora em turismo cultural e museus radicada na Espanha, que é editora do blog de viagens Turomaquia e do site Viajando na Arte.
A Patrícia é também autora de um guia do Museu do Prado em Madri, recheado de informações interessantes e que traz um ‘passeio’ pelas obras de três artistas espanhóis de renome: Goya, El Greco e Velázquez.
Aqui ela nos conta sobre um quadro de Velázquez em exposição na National Gallery de Londres: “The toilet of Venus”. Olha só que interessante:
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Este quadro do espanhol Diego Velázquez é uma das jóias da National Gallery. Provavelmente o artista tenha pintado esta Vênus se olhando no espelho, entre os anos de 1644 e 1648, ou seja, muito antes da Maya Desnuda (e escancarada) de Goya, ou daquela mulher nua entre homens vestidos de Manet.
Portanto, foi uma inovação e tanto para a época.
Ok, era um tema mitológico, mas numa Espanha em plena Inquisição era um algo totalmente proibido, ainda mais com uma mulher nua e tão provocadora. E Velázquez somente pode realizá-la por ser o pintor oficial do rei, e estar sob sua proteção.
A mulher é tão real e parece uma reles mortal como nós, claro que está acompanhada pelo Cupido, mas ele não é o protagonista da tela. É a mulher que brilha, são suas curvas que nos seduzem a não tirar os olhos da tela.
E como a obra foi parar em Londres? Quando as tropas francesas invadiram Espanha, muitas obras saíram de forma clandestina do país. Este quadro acabou nas mãos de um marchand de arte escocês, que vendeu para um aristocrata.
Com a crise do final do século 19, sua família teve que colocar o quadro à venda, e a Vênus foi parar em uma leilão. E é só em 1906 que o grande público conheceu este quadro quando ele foi exposto antes da venda.
Imagine que loucura, foram anos de “reclusão”. Nem preciso dizer que a sociedade britânica enlouqueceu com o quadro, e clamaram pela sua compra para uma coleção pública, para que ele não abandonasse o país. Acontece que estava sendo vendido por uma soma (que na época) era imensa, 45.000 libras.
O Fundo de Arrecadação Nacional só conseguiu somar 20.000 libras, e quando já estavam desistindo de salvar o quadro veio o Rei Eduardo VII e doou 8.000 libras + 5.000 em créditos.
E assim, atualmente todo mundo pode ver (de forma gatuita) esta obra-prima nas paredes da National Gallery.
Observe que Velázquez trabalha o contraste claro-escuro, algo bem típico do barroco. Por exemplo, contrapondo os lençois negros e o corpo claro da Vênus. Também é legal ver as linhas da composição.
Normalmente revelam como o artista pintou o quadro. Neste caso o corpo da mulher corta o quadro em uma linha diagonal. De seus pés saem linhas curvas, as que vão por cima encontram com os lençois brancos e alcançam a cortina vermelha.
E para equilibrar o quadro, o cupido aparece na vertical. O mais fascinante é que o artista antes de pegar o pincel pensa todos estes aspectos da obra!
Outras obras-primas do artista você encontrará em Madri, no museu que guarda o maior número de telas de Velázquez, o Museu do Prado.
Veja no blog Berço do Mundo um guia completo sobre o que fazer em Madri para quem visita a cidade pela primeira vez.
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O Guia Museu do Prado, escrito pela Patrícia, é realmente uma joia e é útil não só para quem está programando uma viagem a Madri.
Nas palavras da autora, o guia é um “aumenta-prazer”, pois além de discorrer sobre as obras expostas no Prado de forma simples e descontraída, nos dá dicas preciosas de como gostar e ter prazer em visitar museus, sejam eles quais forem.
A seção “Mandamentos para se divertir a beça em museus” deveria ser leitura obrigatória para quem está indo fazer turismo na Europa, mesmo os que, como eu, já gostam de museus! Clique aqui para obter mais informações sobre o guia.
Obrigada, Patrícia, pelo post e aguardamos ansiosamente o lançamento do guia da National Gallery!
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